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ESE 28 – 3 – VI

Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal.(1)

Dá-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos Espíritos maus, que tentem desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.

Mas, somos Espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para expiar nossas faltas e melhorar-nos. Em nós mesmos está a causa primária do mal e os maus Espíritos mais
não fazem do que aproveitar os nossos pendores viciosos, em que nos entretêm para nos tentarem.

Cada imperfeição é uma porta aberta à influência deles, ao passo que são impotentes e renunciam a toda tentativa contra os seres perfeitos. É inútil tudo o que possamos fazer para afastá-los, se não lhes opusermos decidida e inabalável vontade de permanecer no bem e absoluta renunciação ao mal. Contra nós mesmos, pois, é que precisamos dirigir os nossos esforços e, se o fizermos, os maus Espíritos naturalmente se afastarão, porquanto o mal é que os atrai, ao passo que o bem os repele.

Senhor, ampara-nos em nossa fraqueza; inspira-nos, pelos nossos anjos guardiães e pelos bons Espíritos, a vontade de nos corrigirmos de todas as imperfeições a fim de
obstarmos aos Espíritos maus o acesso à nossa alma.

O mal não é obra tua, Senhor, porquanto o manancial de todo o bem nada de mau pode gerar. Somos nós mesmos que criamos o mal, infringindo as tuas leis e fazendo mau
uso da liberdade que nos outorgaste. Quando os homens as cumprirmos, o mal desaparecerá da Terra, como já desapareceu de mundos mais adiantados que o nosso.

O mal não constitui para ninguém uma necessidade fatal e só parece irresistível aos que nele se comprazem. Desde que temos vontade para o fazer, também podemos ter a de praticar o bem, pelo que, ó meu Deus, pedimos a tua assistência e a dos Espíritos bons, a fim de resistirmos à tentação.

(1) Algumas traduções dizem: Não nos induzas à tentação (et ne nos inducas in tentationem). Essa expressão daria a entender que a tentação promana de Deus, que ele, voluntariamente, impele os homens ao mal, idéia blasfematória que igualaria Deus a Satanás e que, portanto, não poderia estar na mente de Jesus. É, aliás, conforme à doutrina vulgar sobre o papel dos demônios. (Veja-se: O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. IX, “Os demônios”.)

Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XXVIII, item 3, VI.

Tentação

As tentações são um dos capítulos mais importantes na trajetória dos Espíritos que se esforçam por realizar a sua própria renovação íntima. Muitos acreditam que elas são obra do demônio, cujo passatempo preferido seria provocar a queda dos incautos aspirantes à salvação. Outros veem nelas o afloramento das inclinações inferiores atuando como fortes reminiscências de um passado de erros não completamente superado.

Sua importância na trajetória de espiritualização da criatura foi realçada pelo fato de Jesus ter incluído uma rogativa a seu respeito naquela que é considerada a oração por excelência: o Pai Nosso . Ao dizer “…não nos deixes cair em tentação…” reconhecemos que as tentações são acidentes naturais em nosso caminho, mas entendemos também que somos fracos e devemos rogar a Deus e aos Bons Espíritos, seus mensageiros, a força para superarmos essas verdadeiras medidas de avaliação do nosso propósito de dedicação ao bem.

Jesus nos ensina, no Pai Nosso, a postura de humildade essencial na busca da auto-iluminação. Além disso, na passagem alegórica em que ele é tentado pelo demônio , o Cristo nos oferece um exemplo claro de como superar as diversas formas de tentações.

Primeiramente, convém esclarecer que, etimologicamente, a palavra demônio (do grego daimon) designa um espírito neutro, que pode ser bom ou mau (Platão fala que Sócrates era auxiliado por um daimon do bem, que o guiava). As palavras diabo e satanás se referem a adversários ou antagonistas, que se interpoem no caminho daquele que aspira pelo que é bom e belo.

jesus Na alegoria, Jesus é tentado a: 1) pedir que pedras fossem transformadas em pães para matar a sua fome; 2) verificar se os anjos estavam prontos a lhe amparar no caso de uma queda do pináculo do templo; e 3) adorar o diabo em troca de todos os reinos do mundo. Respectivamente, a figura mostra as tentações ligadas aos apetites mais grosseiros (fome, sede, desejo sexual, etc.), à vaidade e ao orgulho e, finalmente, à ambição.

Em cada uma delas, Jesus se refere à Lei de Deus para mostrar que as orientações são muito claras. 1) Melhor que o alimento material é o alimento espiritual; 2) a criatura orgulhosa, que se julga superior à Divindade, mais cedo ou mais tarde é forçada a reconhecer a sua fragilidade; 3) E todo aquele que inverte a prioridade, buscando as riquezas materiais em detrimento das espirituais também será instado a reconhecer seu erro.

As tentações, assim, são uma realidade. Elas podem decorrer tanto da atuação de espíritos inferiores, que nos querem incitar ao erro, para simplesmente se deleitarem com o nosso sofrimento, quanto são o reflexo de nossas próprias imperfeições. É assim que Tiago (1:14) se referiu ao tema: “Cada um é tentado quando atraído e engodado por sua própria concupiscência.” Ou, em outras palavras, cada um é provado quando exposto ao objeto de seus desejos.

Visto por esse ângulo, o tema das tentações ganha nova significação: no que se refere à atuação dos obsessores, estes só agem quando encontram brechas em nossa vigilância; e, no mais, elas são um processo de avaliação do progresso que já logramos realizar. Tanto por um quanto por outro ângulo, fica ressaltado o nosso dever em orar e vigiar, conforme também nos ensinou o Cristo.

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Para saber mais:

Pai Nosso

Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;

Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;

O pão nosso de cada dia nos dá hoje;

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;

E não nos deixes cair em tentação (1); mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

Mateus 6:9-13

(1) Para explicação dessa frase, vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII, Item 3, VI.