“Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces. – Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Podem colher-se uvas nos espinheiros ou figos nas sarças? – Assim, toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos. – Uma árvore boa não pode produzir frutos maus e uma árvore má não pode produzir frutos bons. – Toda árvore que não produz bons frutos será cortada e lançada ao fogo. – Conhecê-la-eis, pois, pelos seus frutos.” ( Mt, 7:15 a 20 )
No Monte das Oliveiras, já próximo de encerrar sua missão entre os homens, Jesus fala aos seus discípulos naquele que ficou conhecido como o Sermão Profético. Tomados por certo espanto, sem compreender com exatidão a natureza das palavras do Mestre, os discípulos indagaram sobre quando ocorreria e quais seriam os sinais indicadores do fim dos tempos. Diante da pergunta, o Mestre logo os advertiu: “Vede que ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos” (Mc 13,5 e 6). Mais à frente, acrescentou: “Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos” (Mc 13,22).
Jesus se utiliza, também, da figura dos falsos profetas vestidos em peles de cordeiros, mas que, na realidade, são lobos rapaces, isto é, que atacam com voracidade as suas presas. Sempre se valendo das imagens para transmitir seus ensinamentos, o Mestre completa com a comparação entre as árvores e seus frutos: a boa árvore produz bons frutos e a árvore má, por não produzir como dela se espera, será arrancada e lançada ao fogo.
Antes de comentar essas figuras, uma consideração acerca do Sermão Profético se faz necessária. Muitos pregadores, dos mais diversos matizes religiosos, se valem das imagens do fim dos tempos, retiradas desse Sermão, para atemorizar e dominar os seus seguidores. Essas pregações ganham vigor nos momentos em que a mídia espalha as notícias de desastres naturais que ocorrem em todos os pontos do planeta. A visão da Doutrina Espírita, primeiramente, é que os desastres naturais não são de forma alguma uma espécie de castigo divino por conta da desobediência dos homens. É claro que alguns desses desastres podem resultar da ação inconsequente dos homens, mas são efeitos das próprias leis da natureza. Depois, os espíritas acompanham a transição paulatina da Terra em um planeta de regeneração, onde o bem prevalecerá sobre o mal, e não esperam o fim do mundo pura e simplesmente como imaginado por muitos.
Retornando às imagens utilizadas por Jesus em suas advertências aos discípulos, tecemos as seguintes observações:
Falsos profetas cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces
Profetas são as pessoas que, inspiradas por Deus ou por Seus mensageiros, podem instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual (ESE, 21:4). Quando autênticas, realizam verdadeiros prodígios. A Humanidade em todas as épocas testemunhou e se admirou dos feitos desses profetas, que atuaram em todos os campos de atividade humana e representaram as religiões mais sérias. Acontece que, ao lado dos verdadeiros profetas, apareceram (e aparecem) mistificadores e charlatães. Estes aparentam santidade, mas a sua mensagem, na verdade, não está alinhada com as suas ações. São os típicos “façam o que eu falo, mas não façam o que eu faço.” É sobre esses que Jesus alerta: Vede que ninguém vos engane…
Toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má produz maus frutos
A árvore simboliza cada um de nós, que temos nossas missões, ou seja, devemos produzir os frutos de acordo com a nossa natureza. A melhor maneira de avaliar nossas qualidades interiores é por meio de nossas realizações. Quem sente o bem, vibra o bem, pensa o bem, fala o bem só pode praticar o bem, porque o bem faz parte de sua natureza interior.
Toda árvore que não produz bons frutos será cortada e lançada no fogo
Contrariamente às pregações sectaristas, não se vê nessa afirmação qualquer ameaça de danação eterna. Precisamos recordar que a sua mensagem é baseada, principalmente, na imagem divina como sendo a do Pai amoroso, que cuida de suas criaturas e que lhes oferece os meios para a salvação. O fogo não serve unicamente para destruir, mas, às vezes, é utilizado para purificar.
Fica, pois, o ensinamento. Não basta a aparência de santidade, as palavras melífluas. É preciso que, à parte a exterioridade, o sentimento seja puro para dair brotar ações voltadas para o bem, porque é pelos frutos que se conhece a árvore.
Brasília, 16 mar. 2011
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